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O que Kant Diria Sobre a Série Adolescência?

Se Immanuel Kant, o grande filósofo do Iluminismo, tivesse acesso à série Adolescência, é provável que seu olhar rigoroso e moralizante encontrasse ali um campo fecundo para reflexão. A adolescência, para Kant, não seria apenas uma fase biológica ou psicológica, mas um estágio da razão em formação, um momento de transição onde o sujeito deve sair da tutela da infância e caminhar em direção à autonomia moral.

A imagem que ilustra este artigo — com o próprio Kant entre jovens de olhar inquieto, cercados por um clima de drama e descoberta — sintetiza essa ideia: o filósofo como observador de uma juventude em crise, tentando responder à famosa pergunta que ele mesmo formulou: “O que é o Esclarecimento?”

A Saída da Menoridade

Para Kant, o Esclarecimento (“Aufklärung”) é a saída do homem de sua menoridade, estado em que ele é incapaz de usar seu próprio entendimento sem a direção de outro. A adolescência, nesse contexto, é a encarnação dessa luta: o jovem ainda não é plenamente autônomo, mas já não aceita ser conduzido cegamente por pais, professores ou pela sociedade.

Na série, essa tensão está presente em cada episódio. Os personagens vivem dilemas morais, fazem escolhas erradas, confrontam o sistema e, acima de tudo, tentam entender a si mesmos. Kant veria tudo isso como parte do processo de amadurecimento da razão: errar, refletir e agir de forma mais consciente.

A Moral Autônoma Versus a Heteronomia

Kant distingue claramente a moralidade verdadeira (autônoma) daquela baseada em conveniência, medo ou desejo de aprovação (heterônoma). Em Adolescência, os jovens são confrontados por pressões externas — familiares, escolares e sociais. Muitas vezes agem para agradar aos outros, ou para evitar punições.

Contudo, o ponto de virada moral na série acontece quando começam a agir por princípios próprios. Quando decidem fazer o que é certo não porque serão recompensados, mas porque reconhecem isso como um dever, Kant aplaudiria. Esse seria o verdadeiro progresso moral.

O Imperativo Categórico na Prática Adolescente.

Immanuel Kant, filósofo do século XVIII, propôs que a moralidade deve ser guiada pela razão e pela autonomia da vontade. Seu conceito de “imperativo categórico” estabelece que devemos agir apenas segundo máximas que possam ser universalizadas, ou seja, que poderiam ser adotadas por todos sem contradição. Além disso, Kant enfatiza que devemos tratar a humanidade, tanto em nós mesmos quanto nos outros, sempre como um fim e nunca apenas como um meio.

Na série, podemos identificar momentos em que os adolescentes quebram regras para proteger uns aos outros, denunciam injustiças ou enfrentam bullying. Esses atos, se feitos por senso de dever, são exemplos vivos do imperativo categórico em ação.

Liberdade e Responsabilidade

Kant não acredita em uma liberdade sem regras. A verdadeira liberdade, para ele, é a capacidade de agir segundo leis morais que o próprio sujeito reconhece como justas. É a autonomia da vontade, não o fazer o que se quer.

Adolescência mostra exatamente esse embate: os jovens querem liberdade, mas precisam aprender que ela vem com responsabilidade. Não é um dado natural, mas uma conquista racional e moral. E esse aprendizado não é imediato, mas cheio de tropeços.

A Função Educativa da Série

Se Kant fosse comentar a série em uma crítica filosófica, certamente veria nela um recurso pedagógico. Não como entretenimento vazio, mas como um espelho para os jovens refletirem sobre suas escolhas. O filósofo, que valorizava profundamente a educação como forma de emancipação moral, aprovaria o uso de narrativas que convidam ao pensamento crítico e ao juízo próprio.

Ao aplicar esses princípios à série, observa-se que os personagens frequentemente agem influenciados por pressões externas, como a necessidade de aceitação social e a influência de conteúdos online prejudiciais. Essas ações, muitas vezes, não poderiam ser universalizadas sem levar a contradições morais. Além disso, ao tratar os outros como meios para alcançar objetivos pessoais, os personagens violam o princípio kantiano de respeitar a dignidade intrínseca de cada indivíduo.

No contexto brasileiro, onde desafios sociais e educacionais são distintos, a série serve como um alerta sobre a necessidade de fortalecer a educação moral e ética desde cedo. Promover o pensamento crítico e o diálogo aberto pode ajudar os jovens a resistirem a influências prejudiciais e a desenvolverem uma bússola moral sólida.

A Adolescência é uma obra provocativa que convida à reflexão sobre os desafios enfrentados pela juventude na era digital. Incorporar princípios kantianos na educação pode ser um passo importante para orientar os jovens a agirem com responsabilidade e respeito em uma sociedade cada vez mais complexa.

Autor

Wilmar Junior

Filósofo, Teólogo e Pesquisador

Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e atualmente cursando Bacharelado em Psicologia, atuo como pesquisador independente em diversos temas e áreas afins. No blog Gallonews, compartilho análises e conteúdos estratégicos que unem formação acadêmica sólida e pensamento crítico na sociedade.

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1 Comment

  • Dom Casmuro

    Muito bom!

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  • Dom Casmuro

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