Sentir-se magoado é parte da experiência humana. Todos nós, em algum momento da vida, enfrentamos situações em que fomos feridos por palavras, atitudes ou omissões. No entanto, guardar mágoas pode se tornar um veneno emocional, capaz de afetar nossa saúde mental, nossos relacionamentos e até mesmo nossa espiritualidade.
O que são as mágoas e por que elas machucam tanto? Segundo a psicologia, mágoas são dores emocionais que carregamos após experiências de decepção, rejeição ou injustiça. Elas se instalam no coração como uma espécie de cicatriz mal curada, que volta a doer ao menor toque.
Para Anselm Grün, as mágoas são feridas da alma que precisam ser reconhecidas e acolhidas. Em seus escritos, ele afirma que “não se trata de ignorar a dor, mas de acolhê-la com compaixão, como quem acolhe uma criança ferida”. Ou seja, o primeiro passo para lidar com a mágoa é não negá-la.
A importância de reconhecer e nomear a mágoa“O que não é assumido, não é curado.” – Anselm Grün
Ignorar uma mágoa ou tentar fingir que ela não existe apenas prolonga o sofrimento. Anselm Grün ensina que é preciso dar nome àquilo que nos machucou: “Estou magoado porque fui traído”, “Me senti rejeitado por aquela atitude”, “Aquelas palavras me humilharam”.
Nomear a dor é o início do processo de cura. É como colocar luz em um quarto escuro — só assim podemos começar a organizar o que está bagunçado por dentro.
Não se deixar definir pela dor
Outro ensinamento importante de Grün é que a mágoa não deve se tornar nossa identidade. Muitas pessoas acabam construindo sua vida em torno de um trauma: “Eu sou aquela que foi traída”, “Eu sou aquele que nunca foi valorizado”.
O monge nos alerta: “A dor precisa ser sentida, mas não pode se tornar nosso lar”. Isso significa que precisamos permitir que a mágoa seja uma experiência, não uma prisão. Reconhecer a dor, sim — mas seguir em frente também.
A arte do perdão: libertação e não submissão
“Perdoar não é esquecer, é libertar-se do veneno que o outro deixou em você.” – Anselm Grün
Um dos pilares da abordagem de Grün é o perdão, mas não como uma exigência moral ou religiosa. Para ele, perdoar é um ato de libertação interior. É deixar de carregar um fardo que não nos pertence mais.
Perdoar não significa justificar a ofensa ou reconduzir o ofensor à intimidade. É, antes, um movimento de libertação: “Eu me recuso a ser definido por essa dor.” É colocar um ponto final onde a mágoa insistia em repetir vírgulas.
Espiritualidade e mágoas: um caminho de reconciliação
Anselm Grün une espiritualidade e psicologia de forma harmônica. Ele mostra que lidar com as mágoas é também um caminho espiritual. O silêncio, a meditação, a oração e até a arte podem ser instrumentos de cura interior.
Segundo ele, “toda ferida que é acolhida com amor se torna semente de transformação”. Ou seja, não somos reféns da dor. Com acolhimento, autocompaixão e espiritualidade, podemos transformar feridas em fontes de sabedoria.
Como lidar com as mágoas na prática: 5 passos inspirados em Anselm Grün
1. Reconheça a mágoa sem julgamentos
Permita-se sentir. Evite frases como “não devia me sentir assim”. Você é humano.
2. Escreva sobre a dor
O ato de escrever ajuda a organizar emoções. Grün recomenda o uso de diários espirituais.
3. Ore ou medite com a mágoa nas mãos
Visualize-se entregando sua dor a algo maior — Deus, o universo, a vida. Isso não elimina a dor, mas alivia o peso.
4. Busque apoio terapêutico ou espiritual
Conversar com alguém de confiança pode ser fundamental. Feridas emocionais exigem cuidado.
5. Dê sentido à experiência
Pergunte-se: “O que posso aprender com essa dor?” Tornar-se consciente do processo nos ajuda a crescer e amadurecer.
Mágoas e relações: perdoar não é voltar ao mesmo lugar
Um ponto crucial no pensamento de Grün é que perdoar não significa reatar o relacionamento, especialmente se ele for tóxico. A reconciliação pode acontecer apenas dentro de você, sem exigir o retorno da convivência com quem feriu.
Isso é libertador. Significa que você pode seguir em paz sem reviver a dor.
Considerações finais
Lidar com mágoas não é um processo fácil, mas é profundamente necessário. Guardar ressentimentos pode nos adoecer por dentro. Por isso, seguir os ensinamentos de autores como Anselm Grün pode ser um caminho de cura, espiritualidade e libertação.
Seja você uma pessoa religiosa ou não, a proposta de Grün é universal: acolher a dor com compaixão e seguir em frente com leveza. Perdoar, neste contexto, não é um fardo, mas um presente que damos a nós mesmos.